Prólogo
De repente, do nada, surge uma saída: sumir. É sumir, desaparecer. Sumir de um problema, uma emboscada, enfim, sumir.
Eu que vivia a vida com tantos problemas, pude vê-la com outros olhos. Percebi que o passado era só um meio de chegar até aqui. Pude perceber que sou uma nova pessoa.
Que bom que isso aconteceu, e o melhor é que isso não é um sonho. Isso não vai acabar quando eu acordar, isso vai me perseguir pelo resto da minha vida. Bom, se depender de mim é claro.
Capitulo 1
A primeira vez que aconteceu foi há três anos, eu ainda tinha 15 anos.
Era noite, estava caindo aquela tempestade, e a cidade estava um horror.
Eu estava num daqueles bairros sombrios, onde só quem passa a noite são os gatos, vira latas e ladrões. Mas eu tinha realmente que passar por ali para chegar mais rápido em casa. Eu estava na casa de um amigo, em um bairro próximo dali onde o único meio de arranjar transporte para casa, era andar até a avenida principal, onde passava o meu ônibus para casa. Fui andando por aquele lugar imundo, sabendo que a qualquer hora poderia ser abordado por qualquer pessoa.
Sei que não sou nenhum daqueles caras que colocam qualquer pessoa para correr, mas nessas horas, a melhor escolha afazer, é se sentir como um, e pensar que você é o “bam-bam-bam”.
Então passei por ali com aquele barulho de gato virando lixo e bringando com os cães. Fui andando por ali, vez ou outra olhando para as janelas e fachadas dali. Muitas delas precisavam de uma bela limpeza. Ao longo do caminho, vi alguns daqueles grupos de rapazes, conversando e rindo devidamente caracterizados, mas nenhum desses grupos me olhou do jeito com o qual o terceiro grupo me olhou. Eles realmente me assustaram.
Continuei meu caminho, agora com passadas mais longas que as anteriores. Há até dois minutos atrás eu tinha ouvido som de carros passando na outra avenida, mas agora nada de som, nem de carro, nem de ônibus nem de nada. Cada vez mais parecia que eu estava mais distante de um lugar seguro. E tudo o que eu pensava era que eu tinha feito a maior burrice da minha vida. Eu deveria estar em casa agora, que com certeza estaria mais protegido do que neste instante.
No meio desses pensamentos e arrependimentos, os rapazes, por notar a minha mudança de estado começaram a rir entre si. Lembro que um deles gritou:
- Ei cara, pra onde você vai assim tão rápido?
- Por que você não mais devagar e bate um papo com nós aqui. - outro gritou.
Minhas pernas, já não eram mais eu quem as governava. Mas não sei por qual motivo, elas decidiram travar, travaram de um modo que parecia que eu estava preso ao chão, grudado. Elas viraram e me fizeram ficar frente a frente com aqueles caras que, honestamente, eu não gostava nem um pouco.
Tentei olhar para cada rosto, mas não obtive sucesso, todos estavam com o capuz do seu casaco que os duplicavam de largura. Lembro que também estavam com aquelas correntes enormes, varias delas. Não consegui passar dali, pois, ao contrário das minhas pernas, eu estava com muito medo. Eu não queria parar, não queria ter essa imagem em minha memória.
Eles me olharam dos pés à cabeça e me mandaram passar tudo que eu tinha de valor para eles. Mas pensando bem, percebi que naquele instante, minhas pernas havia contaminado toda a minha mente e o meu corpo. Eu estava completamente confiante em mim mesmo que não pensava em sair dali por nada.
- Vai passar ou não o celular e a carteira? - um deles falou com um tom de sarcasmo.
- Sabe de uma? Eu acho que não – desafiei-os.
- Não?!
- Não! - naquele momento vi que tinha sido a pior besteira que eu havia cometido.
Meu corpo novamente foi tomado pela onda de medo que minhas pernas só sabiam tremer, e agora eu sabia que elas me obedeceriam. Ousei correr. Mas não houve o resultado esperado. Caí. Foi o que eles precisavam para cair na gargalhada.
Eu só pensava em sair daquele lugar, eu só queria estar em casa, de onde nunca deveria ter saído.
Olhei para trás, vi que a gargalhada deles tinham cessado, eles estavam vindo na minha direção, os seis. Tudo que consegui fazer foi fechar os olhos.